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Deus Justifica o ímpio

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

DEUS JUSTIFICA O ÍMPIO


Leia este pequeno sermão. O texto encontra-se na epístola aos Romanos, capítulo

quatro, versículo cinco:

“Porém, ao que não trabalha, mas crê Naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é
imputada para justiça.”

Considere estas palavras: “Aquele que justifica o ímpio”. Elas soam aos meus ouvidos
como palavras admiráveis.

Não te surpreende a existência delas na Bíblia? “Aquele que justifica o ímpio”? Às
vezes, ouço que os homens que odeiam a doutrina da cruz, a citam como um escrito
difamatório contra Deus, dizendo que ele salva os iníquos e recebe até mesmo o mais vil dos
vis. Veja, agora, como esta passagem que te apresentei, aceita o escrito difamatório, e
claramente, o estabelece! Pela boca de seu servo Paulo, pela inspiração do Espírito Santo,
Deus toma para si mesmo o título de “Aquele que justifica o ímpio”. Ele torna justos aqueles
que são injustos, perdoa aqueles que merecem punição e favorece aqueles que não
merecem favor.

Pensa, não é verdade que a salvação era para os bons? Que a graça de Deus
era para os puros e santos, livres do pecado? Havia imaginado que, se fosse excelente, Deus
haveria então de recompensar-te, e que, por não ser digno, não há possibilidade de
desfrutar de Seu favor. Deve estar de algum modo surpreso com a leitura deste verso:
“Aquele que justifica o ímpio”. Não me espanta o seu espanto; pois, apesar de toda a minha
familiaridade com a abundante graça de Deus, também nunca deixei de me maravilhar com
ela. Parece surpreendente, não é verdade, que um Deus Santo, justifique um homem
pecador? Nós, de acordo com a legalidade de nosso coração, estamos sempre falando da
nossa própria bondade e de nossos próprios méritos, e teimosamente nos referimos a isso
para dar a entender que há alguma coisa em nós digna de chamar a atenção de Deus. No
entanto, Deus, que vê através de todas as decepções, sabe que não existe em nós nenhuma
bondade. Diz ele: “Não há nenhum justo, nem sequer um”.

Ele sabe que “todas as nossas justiças são como trapo de imundície”; portanto, o
Senhor Jesus não veio a este mundo procurar bondade e justiça entre os homens, mas trazer
a bondade e a justiça com Ele, e concedê-las às pessoas que não as têm. Ele veio não porque
somos justos, mas para nos tornar justos: Ele justifica o ímpio.

Quando um advogado aparece perante a corte em defesa de alguém, se for um
homem sincero, empregará esforços para provar sua inocência e justificá-lo perante o
tribunal das coisas que lhe são falsamente atribuídas. Pois o propósito de um advogado deve
ser sempre justificar o inocente e nunca obscurecer suas culpas. Não está nem no direito
nem no poder do homem justificar verdadeiramente o culpado. Este milagre pertence só a
Deus. Deus, o eterno, sabe que não há um homem justo sobre a terra, que faça o bem e viva
sem pecado; portanto, na soberania infinita da sua natureza divina e no esplendor do seu
amor inefável, empreendeu a tarefa, não de justificar o justo, mas o ímpio. Ele arquitetou
modos e meios de fazer o ímpio comparecer justificado diante Dele, para isso estabeleceu
um sistema por meio do qual, com perfeita justiça, pode tratar o culpado como se tivera sido livre de culpa toda a vida; sim, como se fora inteiramente livre do pecado. Deus justifica o
ímpio.

Jesus Cristo veio a este mundo salvar pecadores. Eis uma coisa surpreendente, uma
coisa para ser admirada sobre todas as coisas. Para mim, até hoje, a maior de todas as
maravilhas é esta, que Deus me tenha justificado a mim. Reconheço-me pessoalmente, uma
esponja de iniquidade, massa de corrupção, montão de pecados, sem o Seu onipotente
amor; mas sei, com plena certeza, que estou justificado pela fé que há em Cristo Jesus, e sou
tratado como se fosse perfeitamente justo, tendo-me tornado herdeiro de Deus e coherdeiro
com Cristo; contudo, por natureza, cumpre-me tomar lugar entre os piores
pecadores. Eu, que sou inteiramente indigno, sou tratado por Deus como digno. Sou amado
com tanto amor como se sempre tivesse sido justo, sendo, na verdade, antigamente injusto.
Quem pode deixar de assombrar-se com isto? Gratidão por um favor tal deve vestir-se com
roupas de espanto!

Agora, embora esta matéria seja grandemente surpreendente, não deixe de notar
quão acessível ela faz o evangelho para você e para mim. Se Deus justifica o ímpio, então,
leitor amigo, Ele pode justificar você. Não é esta a espécie de pessoa que é? Se, neste
momento, ainda não é convertido, este nome te cabe com muita bem: tem vivido sem Deus,
tem sido o oposto da piedade; em uma palavra tem sido e ainda é ímpio. Talvez ainda não
tenha comparecido a algum lugar de culto em dia de domingo; tenha vivido indiferente para
com o dia do Senhor, a casa do Senhor, a Palavra do Senhor. Isso prova que você é ímpio.
Ainda mais triste, bem pode ser que alimenta dúvidas a respeito da existência de Deus, e
não te envergonha de exteriorizá-las. Vive nesta terra agradável, toda ela cheia de provas da
presença de Deus, e todo o tempo os seus olhos se mantiveram fechados às claras
evidências do Seu poder e da Sua divindade. Tem vivido como se não existisse Deus. Na
verdade, teria até se sentido alegre se pudesse demonstrar a você mesmo, como toda
certeza, de que não há Deus. Possivelmente tem vivido muitos anos deste modo, de maneira
que está agora muito bem estabelecido em seus caminhos; no entanto, Deus não se
encontra em nenhum deles. Se fosse chamado de ÍMPIO, teria recebido um nome que te
cabe tão bem como o dizer-se do mar que ele é água salgada. É possível também que seja
uma pessoa de outro tipo: freqüenta regularmente a todas as formas exteriores de religião,
e no entanto, o seu coração não está nelas, pelo contrário, mostra-se realmente ímpio.

Embora tenha se reunido com o povo de Deus, nunca se reuniu com o próprio Deus. Tem
estado no coro, mas ainda não louva a Deus com o coração. Tem vivido sem qualquer amor a
Deus no coração, e sem consideração para com os seus mandamentos. Bem, você é
exatamente o tipo de pessoa para quem este evangelho é enviado – este evangelho que diz
que Deus justifica o ímpio. Ele se enquadra perfeitamente a você, não é verdade? Oh!
quanto desejo que você o aceite! Se é uma pessoa sensata, verá a admirável graça de Deus
no que fez para um tal como é, e dirás a você mesmo: “Justificar o ímpio! Por que então, não
serei eu também justificado, e justificado de uma vez?”

Agora, observe a seguir, que assim deve ser, isto é, - que esta salvação de Deus seja
para aqueles que não a merecem, e nenhuma preparação tem para ela. É razoável que tal
ensino se encontre na Bíblia; pois, prezado leitor, nenhum outro precisa de justificação
senão aqueles que não tem nenhuma justiça própria. Se algum dos meus leitores for
perfeitamente justo, não precisa justificar-se. Você sente que está cumprindo bem com os
seus deveres e quase colocando o céu sob obrigação para com você. Que é que te falta com
relação a um salvador, ou que necessidade tem de misericórdia? Que é que te falta
relativamente à justificação? Já deve estar cansado do meu livro neste momento, pois ele
realmente não te interessa.

Se alguém assumir tais ares de orgulho, ouve-me por um pouco. Irá se perder tão
certo quanto agora vive. Vocês, homens justos, portadores de uma justiça de sua própria
fábrica, vocês ou são enganadores ou enganados, pois a Escritura não pode mentir, e ela diz
claramente: “Não há nenhum justo, nem sequer um”. De qualquer modo, não tenho um
evangelho para pregar aos portadores de retidão própria, nem uma palavra. O próprio Cristo
não veio chamar os justos, e eu não vou meter-me a fazer aquilo que ele não fez. Se te
chamasse, não viria; portanto, não te chamarei, sob aquela condição. Não, eu te imploro, ao
contrário, que olhe para a sua retidão até que veja como ela é ilusória. Não possui nem
sequer metade da substancialidade da teia da aranha. Acabe com ela! Fuja dela! Oh
senhores, as únicas pessoas que podem necessitar de justificação são aquelas que não são
justas em si mesmas. Estas precisam de que alguma coisa seja feita por elas a fim de tornálas
justas diante do tribunal de Deus. Dependam disso. Só o Senhor realiza aquilo que é
indispensável. A sabedoria infinita não tentaria nunca realizar aquilo que é desnecessário.
Jesus nunca tenta efetuar o supérfluo. Justificar o justo não é a obra de Deus, este seria o
trabalho de um tolo, mas fazer justo aquele que é injusto, eis a obra do amor e da
misericórdia infinitos. Justificar o ímpio – eis o milagre digno de um Deus. E certamente
assim é.

Agora, veja. Se houver, em alguma parte do mundo, um médico que tenha
descoberto remédios preciosos e infalíveis, a quem será este remédio enviado? Àqueles que
estão perfeitamente sãos? Não acredito. Ponha-o naquele lugar onde não há enfermos, e ele
sentirá que não está no seu lugar. Nada há ali para ele fazer. “Os sãos não precisam de
médico, mas os que estão enfermos”. Não é igualmente claro que os grandes remédios da
graça redentora são para a alma enferma? Eles não podem ser para as pessoas que estão
sãs, pois não lhes seriam de nenhum préstimo. Se você, prezado leitor, sente que está
espiritualmente enfermo, o Médico veio a este mundo para você. Se você considera
inteiramente inválido em virtude do pecado, você é a verdadeira pessoa visada no plano de
salvação. Digo-te que o Deus de amor tinha diante dos olhos quando arquitetava o seu
sistema de graça pessoas como você. Suponha que um homem de espírito generoso resolva
perdoar todos aqueles que lhe devam. Um há que lhe deve mil libras esterlinas; outro,
cinqüenta; nada tem que fazer senão receber das mãos do homem generoso o recibo final, e
a sua conta estará liquidada. Contudo, as pessoas mais generosas não podem perdoar
dívidas àqueles que não lhes devem nada. Ainda mesmo a Onipotência não pode perdoar
àquele que não pecou. O perdão, portanto, não pode caber a você que não tem pecado. O
perdão há de ser para o culpado. Seria absurdo falar de perdão àqueles que não necessitam
de perdão – àqueles que nunca praticaram uma ofensa.

Pensa que deve estar perdido porque é pecador? Esta é também a razão porque
pode ser salvo. Uma vez que você se reconheça pecador, sinto que posso encorajar-te a crer
que a graça de Deus foi ordenada para uma pessoa como você. Um dos nossos poetas teve a
ousadia de dizer:

“Um pecador é uma coisa sagrada;

O Espírito Santo assim o fez”.

Na verdade, é assim porque Jesus veio buscar e salvar aquele que tinha se perdido.

Ele morreu e fez uma verdadeira expiação em favor de pecadores reais. Quando os homens
não estão brincando apenas com palavras, ou chamando-se a si mesmos “miseráveis
pecadores”, por mero costume, sinto-me sobremodo alegre ao encontrar-me com eles. Me
sentiria feliz em falar toda a noite com pecadores bona fide. A estalagem da misericórdia
nunca fecha as portas a tais pecadores, quer nos dias de semana, quer aos domingos. Nosso

Senhor Jesus não morreu por pecados imaginários: antes, derramou o sangue da sua vida
para lavar manchas profundas , que nenhuma outra coisa pode remover. Aquele cujo
pecado é negro, é exatamente o homem cujo coração Cristo veio embranquecer. Um
pregador, certa vez, pronunciou um sermão extraído do seguinte verso: “Agora, o machado
está posto à raiz das árvores”, e o sermão foi de tal ordem que um dos ouvintes lhe disse:

“Poderia se pensar que estava pregando a criminosos. Deveria ter proferido esta mensagem
na cadeia do distrito”. Oh, não”, disse o bom homem. “Se eu estivesse pregado na cadeia,
não teria usado aquele texto. Para lá teria escolhido o seguinte: “Esta é uma palavra fiel e
digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio a este mundo para salvar os pecadores.”

Assim é. A Lei é para os que se julgam justos a fim de abater-lhes o orgulho; o evangelho é
para os perdidos, a fim de lhes remover o desespero.

Se não está perdido, de que é que te adianta um Salvador? Sairia o pastor em busca
daqueles que nunca se extraviaram? Por que varreria a mulher toda a casa a fim de procurar
moedas que jamais caíram da sua bolsa? Não, a medicina é para a doença, a vivificação é
para os mortos, o perdão é para os culpados, a liberdade é para os que estão em cativeiro e
a abertura de olhos é para os que jazem na cegueira. De que serviria o próprio Salvador, a
sua morte sobre a cruz, o seu evangelho de perdão, se não existissem homens culpados e
dignos de condenação? O pecador é a razão de ser do evangelho. Vocês, amigos, para quem
estas palavras são dirigidas, se são indignos, mal-dignos, inferno-dignos, vocês são aqueles
para quem o evangelho foi designado, planejado e proclamado. Deus justifica o ímpio.
Desejaria tornar isto ainda mais claro. Espero que já o tenha feito; contudo, embora
esteja tão claro, só o Senhor pode fazer com que o homem o perceba. Parece, a princípio,
imensamente surpreso a todo o homem despertado que a salvação realmente lhe pertença,
sendo ele perdido e culpado. Seu pensamento é que devia ser dele como um penitente,
esquecido de que a própria penitência é uma parte de sua salvação. Oh, diz ele, “eu devo ser
isso e aquilo”. Tudo isto é verdade, pois não há de ser isso e aquilo como o resultado da
salvação; mas a salvação lhe é oferecida antes dele possuir qualquer dos seus resultados. A
salvação lhe é oferecida, de fato, quando só merece este nome, infame e abominável,
“ímpio”. Isto é tudo que o pecador é, quando o evangelho de Deus lhe é oferecido para sua
justificação.

Seja-me, pois, permitido insistir com todos aqueles que nenhuma coisa boa possam
achar em si mesmos, que temem nada conhecerem de bom sentimento, ou de qualquer
outra coisa que os possa recomendar a Deus – que eles firmemente creiam que o gracioso
Deus é capaz e está desejoso de tomá-los sem qualquer obra que os recomende, e de
perdoá-los espontaneamente, não porque eles sejam bons, mas porque Ele é bom. Não faz
ele que o seu sol brilhe, tanto sobre os maus como sobre os bons? Não dá a eles estações
frutíferas, e não envia chuvas e o calor do sol a seu tempo sobre os povos mais impiedosos?
Ah, até mesmo Sodoma teve o seu sol, e Gomorra, o seu orvalho. Oh, amigo, a grande graça
de Deus ultrapassa a minha e a sua concepção, e eu gostaria que tivesse dela uma idéia
digna e elevada. Assim como os céus estão mais altos do que a terra, assim os pensamentos
de Deus estão mais altos do que os nossos. Ele pode perdoar abundantemente. Jesus Cristo
veio a este mundo salvar pecadores. O perdão é para o culpado.

Não tente se restaurar fazendo-se diferente do que realmente é, mas venha como é
àquele que justifica o ímpio. Um grande artista, certa vez, pintou uma parte das coisas da
cidade em que vivia, e com propósito histórico, desejou imprimir na sua tela certos
caracteres conhecidos da dita cidade. Um varredor de rua, relaxado, maltrapilho, imundo,
era conhecido de toda a gente, e por isso, foi escolhido para figurar no quadro. O artista
disse-lhe: “Te pagarei bem se vier ao meu atelier para que possa copiar tua imagem”. Na
manhã seguinte apareceu o varredor, mas foi logo despedido pelo artista porque havia
lavado o rosto, penteado os cabelos e vestido um recomendável terno. Ele fora desejado
como um mendigo, e não de outra maneira. Do mesmo modo, o evangelho te receberá em
seus átrios, se apresentar-te como um pecador, e de nenhum outro modo. Não espere até
que seja reformado, mas venha logo para a salvação. Deus justifica o ímpio, e isso te toca
onde está agora. Toca-te mesmo no seu pior estado.

Venha com o seu desarranjo; isto é, venha a seu Pai celeste como o seu pecado e
pecaminosidade. Venha a Jesus tal qual é, leproso, imundo, nu, imprestável, quer para a
vida, quer para a morte. Venha, você que é o lixo da criação; venha, embora não se sinta
sequer encorajado a esperar por outra coisa senão a morte. Venha, embora o desespero
esteja pairando sobre você, ou oprimindo o seu peito como um horrível pesadelo. Venha e
peça ao Senhor que justifique outro ímpio. Por que não o faria Ele? Venha, porque esta
grande misericórdia de Deus se destina a alguém como você. Eu a ponho na linguagem do
texto, e impossível será fazê-la mais forte: o próprio Senhor assume pessoalmente este
gracioso título: “Aquele que justifica o ímpio”. Ele justifica e faz que sejam tratados como
justos, aqueles que por natureza são ímpios. Não é isso uma coisa maravilhosa para você?

Leitor, não se levante do lugar em que está sem que tenha considerado bem este assunto.
 
 
 
 
      Texto extraido do Livro: Tudo pela graça de charles spurgeon